segunda-feira, 29 de maio de 2017

Sobre o Copo de Pitágoras




Pitágoras foi um filósofo e matemático grego (570 - 495 a.C.), nascido na ilha de Samos, na Grécia.Viajou pelo Egito, talvez Índia, e por toda território grego, locais onde recebeu instruções de professores, filósofos e sacerdotes acerca de aritmética, geometria, astronomia, poesia, música e ensinamentos espirituais, o que culminou na criação da escola pitagórica, segundo a qual o Cosmos é regido por relações matemáticas, essência de todas as coisas.



Dentre uma das invenções atribuídas a Pitágoras está uma taça. Em verdade, um copo, o Copo de Pitágoras, que permite ao seu usuário enchê-lo somente até uma certa altura; se o usuário enchê-lo mais do que essa altura o líquido é derramado por meio de um tubo interno.

Sendo ou não uma invenção de Pitágoras, o princípio subjacente à ideia é que nos interessa: o comedimento (que pode ser traduzido em equilíbrio). Segundo Epícteto (55 d.C. – 135 d.C.), devemos nos comportar na vida como nos comportamos em um banquete, ou seja, pegando só o necessário, sem excessos. Mais precisamente, “se apenas toma o que lhe oferecem, e sabe se contentar com o pouco que é necessário, sem ceder à inveja, então não só será convidado pelos deuses, mas tomado como um igual, e reinará com eles”.

O ser humano possui corpos, físico e metafísico. Ambos necessitam de alimentos. Entretanto, o equilíbrio é exigido. Carências e excessos redundarão em potenciais prejuízos, nem sempre percebidos por nós.

Quanto ao corpo físico, este raciocínio é de fácil compreensão. Se excedemos na quantidade de nossa alimentação, o espelho será impiedoso delator e crítico imediato de nossa conduta. Importante mencionar, também, os prejuízos à saúde que daí surgirão. O mesmo raciocínio se aplica à falta de alimentos necessários à manutenção do corpo.

O maior problema reside em compreendermos o alcance desse princípio quando aplicado em nossa vida cotidiana, mais especificamente em nossos atos, emoções e desejos.

Creio que todos temos desejos; é próprio do homem tê-los. Como nos disse Jorge Angel Livraga, se você não tem desejos, você é um idiota ou um Buda. A ironia encerra uma verdade: não devemos negar os desejos. Entretanto, podemos e devemos controlá-los, sob pena de nos tornamos escravos dos mesmos. Quanto mais desejos temos, menos livres somos, pois quem provém o que desejamos são nossos verdadeiros donos, por mais que relutemos em reconhecer tal fato. Podemos e devemos, ainda, qualificar nossos desejos. Como? Ao invés de desejarmos bens materiais, dinheiro, poder, status social, podemos direcionar nossos desejos para causas válidas, como por exemplo sermos pessoas melhores, onde quer que atuemos.

Nossas emoções, por sua vez, são verdadeiras delatoras do nosso equilíbrio. Elas nos sensibilizam em todos os sentidos, tocam nosso coração e dão o colorido à vida. No entanto, são igualmente capazes de nos prender em nossa psique, interrompendo nosso caminhar.

Por exemplo, a dor é um importante veículo de consciência, mas o sofrimento denota ignorância e nos paralisa. O mesmo acontece com o medo, força da vida que ajuda em nossa sobrevivência e serve também de instrumento de consciência e superação (quando não nos deixamos paralisar por ele). A morte é o exemplo mais completo (e extremo!) de como lidamos com a dor e o medo. Se procuramos entender a morte, durante a vida (como muitas tradições o fizeram), fechamos as portas ao sofrimento (e por vezes o desespero!), quando somente cabe a natural dor da perda. Conseguimos seguir adiante, num curto espaço de tempo, pois a vida não suspende seus ciclos à espera de que nos reestruturemos; deve ser um movimento simultâneo e inteligente.  

O mesmo ocorre com a alegria. Na dose certa ela é boa, pois traz leveza, tranquilidade, nos impulsiona para onde devemos ir. Entretanto, o excesso decorrente da alegria traz o mesmo efeito do excesso de dor e medo: nos prende em nossa psique e causa danos. Há dúvidas disto? Quem é que nunca cometeu excessos e sofreu prejuízos advindos de momentos de alegria? Gastou em demasia e gerou um desequilíbrio financeiro, bebeu demais e deu vexame, comeu demais em uma comemoração e engordou, deixou de cumprir deveres inadiáveis, falou coisas não refletidas etc. Como se vê, o equilíbrio também é afetado nesses casos, sem sombra de dúvidas.

Em suma, seja para o “bem”, seja para o “mal”, o excesso em nossas emoções nos tira o justo raciocínio, a consciência, o que não é útil em momento algum, pois nos paralisa, em alguma medida. Daí a necessidade do equilíbrio, do caminho do meio (como nos ensina a tradição budista), refletido no Copo de Pitágoras.   

Por último, nossos atos devem ser limpos, justos, na medida certa, pois, novamente como nos diz Epícteto, “são as únicas coisas que estão em nosso poder, e, por isso, são livres, por natureza”. Todo o resto não nos pertence e não está sob nosso controle. Se procurarmos agir, evitaremos a inércia. De outro lado, se cortarmos os excessos de nossos atos, sejam quais forem, certamente estaremos sujeitos a menos turbulências e desvios de rotas desnecessários.

Delano Lisboa
Membro voluntário de Nova Acrópole

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