Certa
vez, perguntaram a Galileu Galilei (1564-1642), importantíssimo homem de
ciências italiano, qual sua idade. Ele respondeu: "oito ou talvez
dez". Sua barba branca, em “evidente” contradição com sua resposta, causou
perplexidade ao seu interlocutor. Galileu, por sua vez, talvez movido por
compaixão, logo se incumbiu de melhor explicar sua resposta: “tenho, na
verdade, apenas os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os
tenho mais, do mesmo modo que também não tenho as moedas que já gastei”.
A
realidade do ser humano é dual. O mundo assim nos foi apresentado e é neste
cenário que devemos trilhar nosso caminho, nossa Senda, como nos disse Sri Ram
(1889-1973). Cada qual procurando viver seu Dharma, por meio de sua vida kármica
(para aqueles que bebem de fontes da tradição oriental), ou vivendo sob a
palavra de Deus (na tradição cristã ou de outras religiões afins), por exemplo
(respeitada toda a diversidade de entendimentos, fé ou crenças, como
preferirem chamar).
Mas
o que significa o mundo ser dual? Esta é uma importante pergunta, a qual, se
corretamente investigada, nos dá importantes pistas sobre como trilharmos nosso
caminho.
Vejamos.
A
dualidade é a forma pela qual os seres humanos compreendem o mundo, por oposição.
O dia é o oposto da noite. Sabemos o que é o branco porque compreendemos o
preto. Sentimos alegria porque já experimentamos a tristeza. Certamente você
pede seu cafezinho ou seu suco de limão com açúcar porque, inadvertidamente, já
os tomou sem açúcar e isto foi a causa de interessantes expressões faciais (me
perdoem os adeptos do não uso do açúcar refinado pelo exemplo dado; registro
que a sabedoria está com vocês, não conosco, pois sentem o real sabor das
coisas!). Alegramo-nos com o nascimento de uma nova vida, pois já sentimos a
dor da perda...
É
nesse contexto que a resposta de Galileu Galilei alcança sua máxima expressão e
pode ser um divisor de águas em nossa existência. Por oposição, nos ensinou a
importância de valorizarmos o tempo que nos resta e não lamentarmos o tempo que
já passou. Daí podermos extrair que, igualmente, não devemos ficar presos aos
atos passados, pois estes já geraram marcas e novas experiências. Já se
exauriram. O que nos interessa, agora, é o que fazemos com o nosso presente,
motor do nosso futuro.
Conta
uma antiga tradição que uma pequena e simples luz de candeeiro trazida por uma
alma em busca de sabedoria foi capaz de acender diversas outras luzes de outros
candeeiros, após uma tempestade. Isto trouxe a luz novamente a todos, que
puderam se organizar, após o caos da escuridão.
Vivemos
uma época de escuridão, de desesperança. É o que todos sentimos, em nosso
dia-a-dia. Desesperança em nossos governantes, desesperança em nossa sociedade.
Desesperança no próprio ser humano. Mas devemos nos lembrar, oportunamente, que
o ser humano sempre viveu em épocas de desesperança. E se tais épocas são
passado e experimentamos, em alguma medida, algumas evoluções, é porque sempre
houve pequenas luzes de candeeiro dispostas a trazer mais luz a todos. As
almas despertas que as trouxeram e dedicaram suas vidas a servir a todos, com a mente sempre guiada pelo coração, forjaram uma forte corrente: a corrente do Bem,
da Unidade. Esta corrente não só impede o rolar abaixo da pedra, como a impulsiona vagarosamente
morro acima...
Assim,
saibamos entender que nosso crescimento se dará pelo contraste. Qualquer ser
humano é capaz de perceber falta de harmonia, de paz, de justiça, de beleza,
quando escuta verdadeiramente seu coração, sem estar movido por interesses
pessoais, que em nada acrescentam ao Todo. Se reconhecemos a falta, devemos
prover, por meio de ações conscientes, lideradas pelo coração.
Vamos
nos valer de nossa real idade (como nos disse Galileu) para que, em qualquer
cenário que atuemos, a partir de hoje, sejamos luz, sob pena de nos tornarmos
escuridão, desordem e caos...
Delano
Lisboa
Membro
voluntário de Nova Acrópole
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