segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O que é voluntariado?



 
Hoje, 05 de dezembro, é o Dia Internacional do Voluntariado, instituído, pela ONU, em 1985. Todos sabem que o voluntariado tem sido abraçado por uma cada vez maior quantidade de seres humanos, e isso é uma esperança. Mas, como tudo que é humano pode se aperfeiçoar, acrescento algumas observações ao assunto.
Já encontrei vários tipos de voluntários; alguns o faziam por se acharem “culpados” por algo, e quererem “saldar” este débito de erros passados. Outros há que sentem a necessidade de fazer um sacrifício em prol do bem alheio; acho ambos válidos, e até acho belo o espírito do sacrifício. Mas sempre me lembro de alguém que, um dia, após uma boa ação, desferiu a seguinte sentença: “Eu abri mão de muitas coisas por isso!” A expressão me pareceu um lamento por perder algo de maior valor, em termos de prazer e satisfação, por algo de menor valor, dolorido, “sacrificado”. Esse ainda não é bem o espírito do voluntariado com que sonhamos.

Um dia desses, lendo Nietzsche, ouvi-o falar sobre a “vontade de poder”, e me lembrei de que voluntariado nasceu do latim “voluntate”, vontade. Ele diz que é inútil a moral que busca converter o homem por meio de máximas insípidas, como “seja bonzinho etc”. Todo ser humano busca, consciente ou inconscientemente, o poder, e isso pode ser educado e convertido em ações morais.

Aí, chocamos com um preconceito nosso: “Mas o poder corrompe...”. Não creio. Como dizia Machado de Assis, está errada a máxima popular que afirma que a ocasião faz o ladrão; a ocasião faz o crime: o ladrão já nasce feito. Poder é capacidade de ser; a própria etimologia do nome poder vem do latim “potis esse”: posse do ser. É o atributo mais divino que posso imaginar: não ouso pensar em um Deus débil...

Enamorar-se dessa nobreza latente que a nossa natureza presume e querer profundamente vivê-la, trazê-la à tona, é vontade de poder. Continuava Nietzsche: “Há que substituir os códigos de moral por códigos de nobreza...”. Eu não chegaria a este ponto de abolir códigos de moral, pelo menos não tão cedo, mas chego realmente a duvidar que alguém diria: “Eu sacrifiquei muita coisa para ser humano, para ser nobre...”

O que você sacrificou, meu caro?

O que havia de melhor, na sua vida, do que isso? E, se era menos importante, por que o lamento? Deveríamos viver como seres em construção, enamorados da vida humana e dos seus sonhos mais dignos, entre os quais está o de servir ao bem e servir voluntariamente.


Lúcia Helena Galvão
Diretora Adjunta Nova Acrópole Brasil

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