domingo, 31 de julho de 2016

Do interior do Homem, um silencioso chamado



Em nossos dias, muitas propostas têm sido feitas em nome da felicidade humana: o carro do ano, a roupa da moda, “ser a bola da vez”...  A viagem dos sonhos, o cargo mais importante, o salário mais cobiçado, o chefe mais camarada, o parceiro(a) ideal, os filhos ideais... Para cada necessidade humana, uma solução à pronta entrega. Mas, chega um momento que o ser humano se pergunta: há algo mais?  Será que sabemos de fato quem somos nós e o que nos torna plenos de realização e bem estar apesar de tantas circunstâncias vividas?

Olhamos para todos os lados e nenhuma resposta esperançosa ou no mínimo otimista nos é apresentada. E o mercado nos exige muito, disso ninguém duvida. Em tempos modernos como o nosso, temos aprendido a importância de termos muitas capacitações em nosso currículo. Os sábios da história também sugeriram uma dose fundamental de capacitação, mas de uma forma diferente, falavam sobre o coroamento de todas as suas conquistas pessoais como a Humanização de si mesmo.
Dizia a inscrição grega na região de Delfos: “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o homem e o universo.” E isto significava sair dos velhos esquemas e tabus, libertar-se das mecanicidades da vida, dos preconceitos individualistas e lançar-se ao mundo com o olhar de um homem integrado a uma realidade maior que ele próprio. Seria esta que o possibilita conhecer quais são suas dores e sentimentos mais caros a fim de transmutá-los ou ampliá-los; esta sabedoria simples da vida que possibilita ouvir e às vezes calar-se; que o sensibiliza acerca da presença do outro e qual o melhor momento para aproximar-se ou manter-se apenas em vigília. Falavam-nos da outrora esquecida Arte de Viver e deixar viver, conhecer e deixar-se conhecer, amar e deixar-se amar.
Talvez hoje o que nos falte seja justamente este momento cerimonial de contato conosco mesmos para sabermos quem realmente somos... Assim, como aconselha o Pequeno Príncipe na obra de Saint-Exupéry: cativar, criar laços. Primeiramente é fundamental um reconectar-se consigo mesmo para então poder perceber o brilho nos olhos daquele que nos cerca, bem como a natureza que nos brinda todos os dias com um novo leque de possibilidades.
Falta-nos resgatar estes instantes de silêncio, momentos de paz depois de tanta guerra cotidiana por sobrevivência. Faltam momentos para uma boa leitura, um banho que lave o corpo e a mente, um passeio no parque... Segundos que sejam, envolvidos pela candura das crianças ou a suave nostalgia dos mais velhos. Talvez nos faça falta ouvir a orquestra da natureza em meio à nossa selva de pedras... Porque o mundo não para apesar de nossos problemas... E continua tão belo.
Platão sempre dizia que não havia nada mais belo na vida do que ser útil... Ter algo a oferecer -- fosse um sorriso, um gesto ou ainda uma presença silenciosa. Tudo na natureza oferece seu melhor. O que poderá oferecer o homem à vida sem ter que sentir que perdeu algo? Como doar e sentir-se pleno com isso, fonte de mais vida? Dizia ele, que quando agisse em conformidade com sua natureza mais humana, que mais o aproximasse de suas divinas virtudes, o homem encontraria a si mesmo.
Quanto a isso, em todas as tradições vamos ver histórias, fábulas e mitos de um herói que imbuído de boa vontade e motivado por uma aventura idealista, lança-se ao mundo em prol da Justiça, do Amor e da Bondade. Seus desafios começavam ou desembocavam diante de um dragão, uma floresta, um labirinto, um submundo... Enfim, uma gama de elementos simbólicos que convergem a essa busca pelo ser interior do homem. Vencidos os desafios mais audazes, os medos mais paralisantes, as dúvidas mais estagnadoras, as emoções mais frias e rancorosas, seguiam eles triunfantes para a maior de todas as conquistas: sua própria imortalidade.
Parece-nos fantástico ouvir um conselho de historietas que nos sugerem alcançar o inalcançável... Mas quem disse que não podemos? Ao ouvirmos uma voz insistente que latente em nosso peito parece não descansar, alcançamos um pedacinho desta imortal heroicidade de simplesmente Viver, pois como diria a poetisa: o difícil se consegue, o impossível se tenta cotidianamente.

Priscila Pires, professora de Nova Acrópole / www.acropole.org.br

2 comentários:

  1. Belíssimo texto.Eu encontro muitos ignorantes,mas pouquíssimos filósofos em meu caminho.
    Agradeço por iluminar meu dia,mesmo que por um breve instante.
    Pequeno pedaço de tempo que vale por uma eternidade.

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