Olhando
para o nosso mundo, e analisando estatísticas de saúde, violência e dos muitos males
sociais dos quais padecemos, alguém até poderia
se questionar se a felicidade realmente existe.
A
maioria das pessoas acredita que a felicidade é uma condição a ser alcançada no futuro, como resultado da conquista de uma série de bens, tangíveis ou intangíveis, que podemos ir acumulando e mantendo ao longo da
vida. Esses
bens vão ser bastante variáveis, tais como saúde, família,
riqueza, beleza, poder, status, fama, sucesso, e muitos outros.
Mas será realmente
necessário conquistar tantas coisas para ser feliz?
Hoje somos cerca de 7 bilhões
de pessoas na Terra. Quantos destes poderiam ser ricos? Ou famosos? Quantos
podem alcançar os padrões de beleza ditados pela moda? E quanto à saúde, podemos garantir sua manutenção?
Para
todas essas perguntas, basta algum tempo de reflexão para sabermos que a resposta é não,
nós não
podemos conquistar tudo isso. Estudos científicos têm demonstrado que é impossível que muitos sejam ricos, sem com isso comprometer
seriamente os recursos naturais.
E
todos nós sabemos que não há riqueza
que possa garantir nossa saúde
indefinidamente. E também sabemos que em nossa
sociedade, várias pessoas, apesar de
terem conquistado quase tudo que se diz necessário, não
são felizes.
Poderíamos então acreditar que
viemos à vida sem
um propósito maior? E que estamos fadados à busca de uma quimera, uma
fantasia? E que apenas alguns poucos afortunados teriam a dádiva de uma vida feliz?
Nosso
bom senso se recusa a aceitar tal conclusão por muitas razões,
mas há
uma razão acima de
todas: a maravilhosa ordem do Universo e da Natureza.
Esta
é uma ordem que nos indica para onde tudo se
direciona, e nos faz intuir que tudo isso não pode ter sido feito pelo acaso, mas que, ao contrário, constitui a prova mesma de que há um princípio maior.
Toda
a natureza está marcada pela busca da
perfeição, e a percebemos ao estudar a incrível ordem na constituição das formas, tais como átomos, moléculas e sistemas planetários, ordenados segundo infalíveis leis matemáticas, e a mais pura estética geométrica.
O Universo busca a perfeição, e tudo na natureza está em constante processo de aperfeiçoamento. De formas primitivas e rudes, vemos criaturas
e sistemas evoluindo para estruturas
cada vez mais complexas, organizadas e belas.
E
estaria o ser humano à parte
de tudo isso? Isso também não é admissível, pois se tudo possui um papel na natureza,
e se cada coisa tem seu lugar na existência, como poderíamos nós
estarmos à parte
de tudo isso? Então também devemos ter um papel, temos de ter um propósito em nossas vidas.
Não viemos à vida pela coincidência de um acaso fortuito.
Viemos por um propósito. Viemos com uma
missão, a grande missão, a mesma denotada e perceptível na Natureza ao nosso redor: a busca da
perfeição.
E
não é de
estranhar que tem sido esse um sonho de quase todos nós, que estamos sempre esperando esse momento futuro em
que tudo estará de acordo aos nossos
maiores anseios.
Mas
infelizmente, por ignorância, projetamos nas
coisas, projetamos fora de nós,
esses sonhos augustos que nos embalaram a infância e nos fizeram viver momentos de encantamento (e
agora eu era o herói...).Sonhamos com
coisas perfeitas, amigos perfeitos, um par perfeito... Sonhamos com um conto de
fadas.
Mas
ao crescer, e ao não conseguir encontrá-lo, muitos se frustram, e acabam por desistir
da busca, caindo na inércia infeliz de uma
vida sem sentido, uma vida sem propósito,
uma vida sem mística, uma vida sem
mistério.
É que talvez, busquemos a perfeição onde ela não depende de nós e, portanto,
não é possível
alcançar.
Disseram
os grandes filósofos, como Platão, que todos nós temos um Arquétipo, um modelo perfeito de nós mesmos que se encontra em um mundo celeste. E que nós devemos buscá-lo por toda a vida, tornando cada experiência que vivemos num exercício na construção desse modelo arquetípico.
Não seria essa a origem de nossos sonhos mais
puros? Os sonhos da infância? Os sonhos
heroicos que hoje só vemos no cinema (ou
nem isso)?
Então, o alvo de nossa busca não está fora. Ele se encontra dentro. E a perfeição almejada, não pode ser a das coisas ao nosso redor, mas a
do ser humano que habita em nós, que à medida que se aproxima de seu arquétipo, à medida que cumpre com sua
missão, se torna expressão, como diria Platão, da Beleza, da Bondade e da Justiça, transformando tudo ao seu redor, tornando o
mundo melhor.
Temos
exemplos assim ao longo da história.
Exemplos de grandes mestres que nos mostraram esse caminho, e nos ensinaram que
a Felicidade, é o prêmio daqueles que, mesmo em
sua humana imperfeição, estão cumprindo com esse grande propósito.
Jean Cesar Antunes Lima
Professor de filosofia em Nova Acrópole
jeancesaral@gmail.com
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