Há alguns dias, resolvi preparar alguns biscoitos para minhas filhas, como
contraponto à rotina de trabalho. E aproveitando
as facilidades da tecnologia, encontrei rapidamente um vídeo ensinando a
fazer cookies de chocolate.
Os ingredientes estavam facilmente à disposição no supermercado próximo de minha casa, e ante a notícia do que
iria fazer, consegui logo 3 ajudantes mirins (minhas duas pequenas, e uma
visitante que ficou sabendo e veio mais que depressa).
Em pouco tempo, descobri o quão divertido pode ser ir para a cozinha (e mais
ainda com a ajuda delas), e logo estávamos os 4 a curtir alegres (e deliciosos)
momentos de preparação e, finalmente, de degustação dos
ansiados cookies de chocolate.
Enquanto fazia os biscoitos, na confusão de vasilhas e da
batedeira sujas, por mais de uma vez tive de afastar o pensamento de que teria
sido bem mais fácil levá-las ao shopping e comprar cookies e, qualquer outra coisa, prontos. E por
mais de uma vez tive de resgatar a ideia original, de que estava ali por outro
motivo, e não simplesmente preparando um lanche.
E depois disso, refleti sobre o motivo de termos poucos desses
momentos; momentos de alegria tirados de circunstâncias simples e
despretensiosas. E um deles, percebi, é a ânsia de buscar o fácil e o cômodo do
pronto, quando poderíamos ter o alegre e divertido do aprender a fazer.
Nós nos acostumamos ao fast food e ao fast tudo. Acreditamos na
propaganda massiva que nos convenceu de que para ser felizes precisamos ter
aquele apartamento, aquele carro, ir àqueles lugares, comer aquelas comidas e, até mesmo, ser daquele
jeito. É tudo vendido pronto, facilmente ao alcance de todos (que tenham o
dinheiro suficiente, claro). Mas conquistar essa quantidade de coisas, para a
imensa maioria de nós, é simplesmente impossível.
Mas porque acreditamos nisso, corremos a buscar ter as coisas das quais
realmente não precisamos, e nos endividamos. Vamos a muitos lugares, e parece tudo
igual. Alimentamo-nos com comidas que não nos fazem bem, e adoecemos. Esforçamo-nos por
impressionar as pessoas com uma aparência e comportamentos que não convencem
nem a nós mesmos, e depois..., ficamos tristes.
É que,
convencidos pela enganosa propaganda, passamos a acreditar apenas na força do
dinheiro, como fator de felicidade. Perdemos a capacidade de olhar ao redor e
ver a força das pequenas coisas que estão aí (mas a cada dia menos). Estão esperando
que voltemos a vê-las. Depois descobrimos que a
felicidade não é o resultado do acúmulo, pois se fosse, todos os ricos seriam
felizes. E a realidade, é
que muitos, confessadamente, não o são.
O engano tomou tal proporção, que já não sabemos
mesmo do que realmente gostamos. E nosso gosto passa a variar com a moda, tão
artificial quanto as comidas coloridas que ingerimos.
Ouvimos músicas (será que podem ser chamadas assim?) porque todo mundo está ouvindo.
Mas quem foi que começou a ouvir? Tinham bom gosto essas pessoas? E existe o bom gosto, ou
qualquer gosto é válido?
Nós assistimos a programas de TV porque é o que está passando. Mas quem
decidiu o que passar? Baseado em que critério? Tinha a intenção de nos fazer
aprender boas coisas?
Diziam os antigos filósofos que as ideias, assim como os alimentos,
modificam-nos. Se comermos coisas ruins, nossa saúde se degrada. E se
assistimos, ouvimos e lemos coisas de má qualidade, o que ocorre?
Compramos telefones inteligentes
(smart phones), e nos tornamos aficionados a eles ao ponto de já não olharmos
direito ao redor (será
que são mais smart
do que nós?), de estar presos às telas com se a vida estivesse lá dentro, e fosse mais importante se manter
conectados à vida lá, do que à vida que temos ao nosso redor. E é cada vez mais comum ver um grupo de pessoas
mudas, ao redor de uma mesa num café, presos às telas de seus aparelhos, como uma nova forma de vício (e por
falar em vícios... melhor deixar para outro dia).
Não é minha pretensão dar alguma receita de felicidade (mas pode me pedir a dos cookies, se
quiser), mas apenas chamar a atenção do leitor para algo simples e verdadeiro: É que, se não temos à vista a felicidade, que é algo grande, podemos ter, com facilidade,
muitos momentos de alegria, todos os dias, se soubermos apenas apreciar as
pequenas coisas e momentos que nos cercam cotidianamente.
Há que deixar de lado as neuroses da pressa, do que nos falta comprar, e a
ânsia por estar em outro lugar fazendo outra coisa. Curtir mais o que
temos ao nosso redor, as pessoas que convivem conosco, as coisas que já temos e o
clima da estação. Fazer, se possível, antes que comprar ou contratar. Ler bons
livros, ao invés de assistir a uma programação de gosto duvidoso na TV. Conversar com as
pessoas sem segundas intenções, mas com sinceridade, querendo compreender a
tudo e a todos.
Enfim, se trata de apreciar a vida de forma natural, com o que ela nos
traz. Aprender dela com a curiosidade de uma criança que recém iniciou seus
estudos. E gostar do que aprendemos mais do que de coisas. Pois ao final, o que
levaremos conosco da vida? Certamente não as coisas que tenhamos acumulado.
E não poderia ser essa uma forma da felicidade? (porque penso que pode
haver outras): uma vida de momentos alegres, unidos por um propósito de vida honesto.
E se tivermos que nos atribular, que seja pelas coisas válidas, pelo
que realmente conta e faz falta: pela paz, pelo amor, pela educação, pelo
direito a viver de forma digna.
E se tivermos de lutar, que seja pelo Bem e pela Justiça.
Como diziam os antigos romanos, carpe diem (aproveite o dia), e seja
feliz.
Jean Cesar
Antunes Lima
Professor de filosofia em Nova Acrópole
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